3 de jun. de 2010

DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA: "ME ENGANA QUE EU GOSTO"...OPS...QUERIA DIZER: "ME ENGANA QUE EU VOTO"


Ao propor ajuda financeira do governo federal aos acreanos em faculdades particulares bolivianas - onde não existe um rigoroso sistema de admissão - Perpétua Almeida despertará questões embaraçosas para ela e os estudantes: "com tantas faculdades de medicina pelo Brasil oferecendo milhares de vagas anualmente, porque alguém iria cursar medicina na Bolívia?"

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Votei por duas vezes na Deputada Perpétua Almeida (PC do B-Ac) e confesso que estou me decepcionando com a forma como ela tem administrado o mandato que ajudei a dar a ela. Tenho observado uma série de atitudes por parte da parlamentar que a nivelam aos políticos tradicionais e oportunistas. Foi assim com a questão dos soldados da borracha, dos mototaxistas e dos 'supostos' contaminados pelo DDT.

Neste final de semana, por exemplo, ela fez publicar na imprensa local nota afirmando que vai "verificar a possibilidade do governo federal criar uma linha de crédito específica para estudantes brasileiros no exterior". A razão da iniciativa são as centenas de acreanos que cursam medicina em faculdades privadas bolivianas. Apenas em Cobija são cerca de 500 acreanos matriculados na universidade de medicina local.

O oportunismo da deputada reside no fato de que todos sabem - incluindo ela - que o Governo brasileiro não financia estudos de graduação para brasileiros em faculdades particulares no exterior. Aliás, é bom que se esclareça que quem costuma pagar para seus habitantes frequentarem as melhores faculdades de graduação - e apenas as melhores - do exterior são aqueles potentados árabes, que vivem do petróleo.

Por que o Brasil, um país que ainda abriga milhares de miseráveis, iria ser perdulário nesse quesito? E ainda mais em medicina, área onde o país conta com faculdades de excelente qualidade?

A CAPES e o CNPq, que administram a maior parte dos recursos públicos voltados para a formação e capacitação de brasileiros no exterior, por exemplo, apóiam pessoal de nível médio ou superior em atividades acadêmicas no exterior apenas para fazer treinamentos muito especializados, ou cursar mestrados ou doutorados em áreas nas quais o país ainda é deficiente ou em casos em que não existe formação acadêmica similar no país.

Diante disso, porque a deputada 'promete', em pleno ano eleitoral, que vai verificar a possibilidade do governo criar uma linha de crédito para quem estuda na Bolívia?

Qual a justificativa? Para mim nenhuma. Não vejo outra razão que esteja movendo a deputada que não seja o interesse em votos em um ano eleitoral.

Façam as contas: multipliquem 500 estudantes acreanos em Cobija por 3-4 familiares e temos um potencial de 1500-2000 votos. Não reelegem a deputada, mas ajuda um bocado. Especialmente agora que o seu esposo, o Deputado Estadual Edvaldo Magalhães (PC do B), precisa de todo e qualquer voto para se eleger para o Senado.

[Se você leitor fizer um exercício do potencial de votos para os casos dos mototaxistas, soldados da borracha, e outras causas de 'grande apelo popular' dá para ver que Deputada pode se considerar reeleita com folga]

Se a Deputada for mesmo articular a busca de recursos públicos para apoiar os estudantes acreanos que cursam medicina em faculdades particulares da Bolívia, corremos o risco de sermos ridicularizados mais do que já somos.

Traduzindo: o ensino público no Acre ainda é reconhecidamente deficiente, apesar dos avanços recentes na educação básica.

Ao propor ajuda financeira do governo federal aos acreanos que estudam em faculdades particulares bolivianas - onde não existe um rigoroso sistema de admissão - a Deputada despertará nos seus interlocutores questões básicas, mas embaraçosas para ela e para os estudantes que poderiam ser beneficiados:

- Ué, com tantas faculdades de medicina pelo Brasil oferecendo milhares de vagas anualmente, porque alguém iria cursar medicina na Bolívia? Não conseguem passar no vestibular?

Além disso, ela teria que contra-argumentar questões igualmente complicadas:

- Se for para incentivar a formação de um número maior de médicos no país, não seria melhor criar uma linha de crédito para apoiar todos os estudantes que fossem aprovados nos vestibulares de medicina de todas as faculdades do país - públicas e privadas?

- Porque investir recursos do país em faculdades estrangeiras de qualidade duvidosa visto não serem avaliadas como as nacionais?